sexta-feira, 4 de julho de 2008

Amanhã II

“A carga pronta metida nos contentores, adeus aos meus amores que me vou p’ra outro mundo”.

— Quem me dera ir!

Mudar de estação de rádio. Notícias repetitivas, anúncios irritantes, músicas demasiado melosas. Pensamentos negativos, atitude ora passiva e apática, arrastada, ora irritável e amarga. Mas a culpa nem sempre é do sistema

— É.

e o mundo não tem que estar sempre extraviado.

— Mas está.

A isto chama-se STIV: Síndrome Terrível e Irremediável de Vitimização. Nome pomposo, ah?

Desespera com um cão que atravessa a estrada fora da passadeira, insulta mentalmente um condutor menos destro e expira longamente demasiadas vezes por minuto. O lado positivo da questão? Não rói as unhas, não fuma nervosamente nem bebe para esquecer. Aqui o vício é uma cansada vitimização (cansaço, cansaço, cansaço), que corrói mais que aquele produto barato que usa para desentupir canos. Uma vez olhou-o demasiado tempo, duas vezes pensou em bebê-lo, mas não. “Mereço um fim mais trágico.”


(continua, espero que num período bem, bem mais curto do que aquele que se passou entre esta e a última publicação.)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Amanhã

Um rotineiro acordar, apressado, cansado. Uma habitual manhã, trivial, desmotivante, estupidamente aborrecida. Mais uma tarde como todas as outras, o prolongamento da melancólica e arrastada manhã. Anoitece solitário, triste, sombrio. A noite agitada, ansiosa, preocupada. Um sonho acordado.

Como fora possível atingir aquele ponto? Até força para reflectir faltava. Sentia um vazio insuportável.

O rotineiro acordar: sete e quarenta e sete. “ Já?” O seu primeiro pensamento pela manhã. Segue-se o banho quente, que tudo compõe, excepto o instalado estado de espírito depressivo. Vestir algo que sai sempre terrivelmente mal conjugado. Passa ao café forte, amargo. Por vezes uma bolacha, uma maçã. Oito e um quarto. “A chave?” Enchutar o gato do sofá, revirar almofadas. “A chave?!” O bolso! Correr para a porta, procurar a chave correcta, deixar cair os papéis desorganizados e atrasados. Assistir ao gato surgir, pisar tudo. “ Chut! Chut!” Gato ridículo, nunca gostara dele. Gordo de mais, excessivamente preguiçoso, matreiro, infiel, interesseiro. Como se ver livre da prenda que a mãe lhe oferecera? "Para não te sentires tão sozinho!" Sem dúvida, um destino errante.

O pico alto da manhã, o momento mais radioso: chegar ao velho carro de quinze anos, branco e deslavado (até dinheiro para a pintura faltava), evitar olhar para o espelho inundado de fita adesiva amarela. Malditos putos! “Para a próxima quem lhes atira um pedregulho sou”…

— Ora muito bom dia!

Sim, mais um belo dia — pensa sarcasticamente.

— Olá! Adeus!

— O seu vidro está partido.

Todas as santas manhãs ouvir a Dona Amélia, da janela da sua velha casa, gritar algo desnecessariamente irritante.

— Acontece. — Um sorriso seco.

— A sua mamã está triste. Ontem só lhe ligou uma vez.

Só uma vez… Uma vez de quarenta minutos a ouvir queixumes da cor da urina do pai, das batatas que não crescem, da namorada inexistente, do lindo gato, das obscenidades da televisão…

— Pois… — limita-se a responder.

— O cágado morreu. Talvez lhe devesse comprar outro, a pobre ficou muito cabisbaixa.

Abrir a porta do carro. Ao entrar, gritar:

— Dona Amélia, veja lá se fica constipada! Volte para dentro e feche a janelita, sim? Passe um bom dia.

— Pois é… Divirta-se! Que idade linda que tem! Ainda me lembro dos meus trinta aninhos… Já tinha quatro filhos! Quando é que dá um netinho à sua mãe?

— Qualquer dia. Estou atrasado. Tenho mesmo que ir!

— Ah pois está! Olhe que a idade não perdoa! Despache-se então!

Trocadilhos incómodos. A Dona Amélia conseguia ser, de facto, bastante inconveniente. Todas as manhãs ouvia comentários que o deprimiam ainda mais. Por que é que a velha não acordava mais tarde?

Três tentativas falhadas para a ignição pegar. O seu lema: “ À quarta é de vez!” O ruído ensurdecedor do motor a trabalhar que atordoa o ar, o fumo do escape que contribui para a poluição do ambiente, o efeito de estufa, o aquecimento global, o degelo. Sim, ele era um tanto obcecado. Preocupado com o futuro da Humanidade, com as gerações futuras, com o desenvolvimento sustentável, por que não ir de bicicleta? Um problema no joelho. E de autocarro? Como se algum parasse naquele fim de mundo. Talvez a pé? Gargalhada sonora.




continua (?)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008



Pensar incomoda como andar à chuva”.
E eu penso de mais, mas sempre gostei de sentir a chuva na pele.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Mar adentro - El vuelo

Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo,
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:

El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos...

Ramón Sampedro

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Nouvelle vague - In a manner of speaking

Fica aqui a música que tentei publicar abaixo... Ainda me estou a habituar às configurações do Blog. ;)
Obrigada pelas dicas preciosas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pela paixão

Há momentos em que só nos apetece ouvir uma música.
Pela obsessão.
Pelo vício.
Pela paixão.






In a manner of speaking I just want to say, that I could never forget the way, you told me everything by saying nothing.
In a manner of speaking I don't understand, I love when silence becomes repriment, the way that I feel about you is beyond words.

Oh, give me the words. Give me the words, that tell me nothing.
Oh, give me the words. Give me the words, that tell me everything.

(...)

Nouvelle Vague

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008




O princípio.